[:pb]Depoimento de egresso: Olívia Flor[:]

3 de julho de 2019

[:pb]    Jamás se va lo que se queda abrazado al alma. Em bom português: “Jamais se vai o que fica abraçado à alma”. Essa foi uma frase que eu li hoje, passando displicentemente por algumas postagens no Instagram.

Fechei a tela. Olhei meus livros. Pensei na minha trajetória.

“Jamais se vai o que fica abraçado à alma”.

Abri meu caderninho, onde eu anotava algumas coisas vividas durante o intercâmbio.

Uma foto polaroid. Um desenho ganho num ponto turístico. Uns marca-páginas. Ingressos de algum monumento. Uma folha do outono que secou e permanece guardada.

Todas essas coisas me lembram um pedacinho do caminho que trilhei do lado de lá do Oceano. Foram muitas coisas que mudaram minha perspectiva sobre tantos aspectos e que talvez nem eu consiga mensurá-las.

Tantas coisas que permanecem, ainda hoje, abraçadas à minha alma…

E aí eu pergunto, caro leitor: quanto cabe em seis meses?

Quanto de amor cabe? Quanto pedacinho de terra jamais pisado, e que, de repente, tem jeito de casa? Quanta gente incrível, que, do nada, torna-se familiar?

Eu, de verdade, não sei… Mas acho que faz parte da graça não saber.

Supostamente, eu deveria escrever neste espaço algo sobre o início da minha jornada. Processo seletivo, visto, a chegada em outro país… Mas essa não seria eu. Porque não sei escrever algo sobre mim que não venha do meu coração. E, felizmente ou não, isso é o que vem agora.

Certa vez, o poeta Fernando Pessoa disse que a vida é o que fazemos dela. A viagem são os viajantes. O que vemos, não é o que vemos, senão o que somos. E uma grande amiga me fez enxergar que, em qualquer nova cidade, o viajante reencontra o seu passado que já não sabia que tinha. “A estranheza do que não somos ou já não possuímos espera-nos ao caminho nos lugares estranhos e não possuídos”.

Então, o que eu posso dizer a quem sonha fazer um intercâmbio é: permita-se descobrir novos lugares e coisas.Sonhe! Não tenha medo!

Embarcar rumo ao desconhecido é uma experiência que, de início, lhe faz sentir-se muito inseguro. Uma outra língua, uma outra cultura…

Talvez isso aconteça devido à nossa vontade de estar no controle da situação a todo tempo, de fazer planos e de querer que as coisas sejam absolutamente previsíveis.

Na realidade, embarcar rumo ao desconhecido é deixar que as coisas aconteçam como têm que acontecer.

Hoje, vejo que trilhar este caminho foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido. Quando penso que um Oceano de tempo e espaço me separa de tudo o que vivi, eu percebo que, parafraseando Mia Couto, por muita que seja a estrada, eu nunca estarei distante daquele lugar

E você sabe o porquê?

Ah, porque jamás se va lo que se queda abrazado al alma.[:]