[:pb]Depoimento de egresso: Olívia Flor[:]
[:pb] Jamás se va lo que se queda abrazado al alma. Em bom português: “Jamais se vai o que fica abraçado à alma”. Essa foi uma frase que eu li hoje, passando displicentemente por algumas postagens no Instagram.
Fechei a tela. Olhei meus livros. Pensei na minha trajetória.
“Jamais se vai o que fica abraçado à alma”.
Abri meu caderninho, onde eu anotava algumas coisas vividas durante o intercâmbio.
Uma foto polaroid. Um desenho ganho num ponto turístico. Uns marca-páginas. Ingressos de algum monumento. Uma folha do outono que secou e permanece guardada.
Todas essas coisas me lembram um pedacinho do caminho que trilhei do lado de lá do Oceano. Foram muitas coisas que mudaram minha perspectiva sobre tantos aspectos e que talvez nem eu consiga mensurá-las.
Tantas coisas que permanecem, ainda hoje, abraçadas à minha alma…
E aí eu pergunto, caro leitor: quanto cabe em seis meses?
Quanto de amor cabe? Quanto pedacinho de terra jamais pisado, e que, de repente, tem jeito de casa? Quanta gente incrível, que, do nada, torna-se familiar?
Eu, de verdade, não sei… Mas acho que faz parte da graça não saber.
Supostamente, eu deveria escrever neste espaço algo sobre o início da minha jornada. Processo seletivo, visto, a chegada em outro país… Mas essa não seria eu. Porque não sei escrever algo sobre mim que não venha do meu coração. E, felizmente ou não, isso é o que vem agora.
Certa vez, o poeta Fernando Pessoa disse que a vida é o que fazemos dela. A viagem são os viajantes. O que vemos, não é o que vemos, senão o que somos. E uma grande amiga me fez enxergar que, em qualquer nova cidade, o viajante reencontra o seu passado que já não sabia que tinha. “A estranheza do que não somos ou já não possuímos espera-nos ao caminho nos lugares estranhos e não possuídos”.
Então, o que eu posso dizer a quem sonha fazer um intercâmbio é: permita-se descobrir novos lugares e coisas.Sonhe! Não tenha medo!
Embarcar rumo ao desconhecido é uma experiência que, de início, lhe faz sentir-se muito inseguro. Uma outra língua, uma outra cultura…
Talvez isso aconteça devido à nossa vontade de estar no controle da situação a todo tempo, de fazer planos e de querer que as coisas sejam absolutamente previsíveis.
Na realidade, embarcar rumo ao desconhecido é deixar que as coisas aconteçam como têm que acontecer.
Hoje, vejo que trilhar este caminho foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido. Quando penso que um Oceano de tempo e espaço me separa de tudo o que vivi, eu percebo que, parafraseando Mia Couto, por muita que seja a estrada, eu nunca estarei distante daquele lugar…
E você sabe o porquê?
Ah, porque jamás se va lo que se queda abrazado al alma.[:]