Depoimento de egresso: Roberta Sousa

3 de outubro de 2019

Escrever um relato de intercâmbio é mais difícil do que imaginam. Apesar de um (a) ex-intercambista procurar sempre contar suas histórias à outras pessoas, falar sobre como foi difícil o fuso horário, como é caminhar por um lugar desconhecido, provar comidas de diferentes culturas e até o fato de tudo ganhar uma intensidade assustadora — seja na oportunidade de conhecer pessoas ou até de encontrar versões de si. Escrever surge como um ato mais intimido, é como falar consigo mesmo.

Vasculhar lembranças tão marcantes e traduzi-las no papel é algo corajoso. Segundo Clarice Lispector, “é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador”. Eu assumo essa tarefa de novamente retornar ao passado e sentir inquietamente para que consiga dizer-vos a experiência mais desbravadora que vivi.

Voltemos ao início… Sonhar morar em outro país para uma brasileira pobre, paraibana e do sertão é fácil, mas transformar isso em realidade é desafiador. O que antes era apenas uma fantasia ingênua, na universidade eu recebi a notícia sobre uma possibilidade de realizar o que tanto almejava.

Quando temos uma meta, traçamos vários pontos. Os meus foram: acreditar em mim mesma, estudar, explorar o meu potencial e perseverar. Dessa forma, no momento em que participei como ouvinte da caravana CoRi, arrisquei fazer a inscrição do Programa de Mobilidade Internacional (PROMIN). Lembro das minhas dúvidas mesmo quando fui selecionada para segunda etapa, mas quando recebi o resultado final pareceu ser justo com os meus esforços.

Escolher um destino é outro instante audaz. Quando optei por Portugal parecia que estava indo visitar a casa de um familiar antigo que possuía várias histórias para narrar e, assim aconteceu. Entretanto, esse país ultrapassou tudo o que poderia pensar.

A Universidade de Coimbra tem um misticismo, no lugar mais alto de Coimbra, ela parece estar observando todos os estudantes, os que chegam, que passam e aquele que partem. Entre suas paredes seculares, ecoam relatos de 729 anos de história, inclusive o meu.

Respirar Coimbra e tê-la em mim foi andar por todas as ladeiras, tomar cafés, ler no Rio Mondego, caminhar com as sacolas do supermercado passando pela Praça da República, subir os 125 degraus das Escadas Monumentais para chegar à Faculdade de Letras, se assustar com os doutores usando suas capas pretas, ouvir serenatas na Sé Velha, fazer amigos de vários lugares do mundo (Alemanha, Rússia. Itália, Turquia, Espanha, Marrocos, etc) e construir uma nova família composta por aqueles que te ampararam todos os dias, te ofereceram moradia e se mantiveram através de laços irrompíveis.

Portanto, voltar de um intercâmbio é saber que conseguiu um sonho, mas que seu horizonte se alargou, restando com mais maturidade, desenvolvimento profissional e pessoal atingir outros sonhos. Ademais, chegar de um intercâmbio é também trazer na mala um outro lugar e uma diária saudade.